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“A melatonina tem um ciclo inverso do ciclo da temperatura do corpo. Enquanto a temperatura desce durante a noite, até às quatro da manha, a melatonina começa a ser produzida a partir das oito horas da noite e sobe até às quatro da manhã”, disse Teresa Paiva.
A especialista explicou em pormenor estes mecanismos. “O nosso ritmo biológico mais estável é o ritmo da nossa temperatura corporal e essa temperatura tem um ritmo que é bifásico, o que quer dizer que no fim do dia começa a descer, tem um mínimo em redor das quatro da manhã e depois começa a subir, alcançando o máximo à hora do almoço. A seguir há um mínimo relativo que coincide com o nosso período de propensão para a sesta, começando a descer até à noite.
A melatonina é hipnogénica e circadiana mas não nos faz dormir. É como se fosse um sincronizador para todo o corpo de que são horas de dormir.
Se à uma da manhã mantivermos a luz acesa ou estivermos a trabalhar com um computador cheio de luz ou outro dispositivo electrónico , a melatonina é bloqueada e o nosso sistema fica altamente perturbado. Tal como um desportista que dá muitas quedas e lesiona o joelho, se fizermos muitas agressões deste género, há a tendência para deslizar o adormecer para horas cada vez mais tardias e o nosso sistema pode ficar danificado.”
Os ritmos circadianos são mais antigos que o sono
Os ciclos e ritmos circadianos foram outro assunto em debate. Teresa Paiva considera que “os ciclos circadianos colocam-nos em sincronia com o Planeta Terra, com a noite e o dia. É preciso não esquecer que somos animais diurnos, ao contrário, por exemplo, da coruja do mocho, do rato. Estamos feitos para sermos animais diurnos, a parte nuclear do nosso dia tem que ser diurno. É um sistema que foi aperfeiçoado ao longo de milhões de anos”
Em relação aos ritmos circadianos, a especialista referiu que estes “são mais antigos do que o sono, pensa-se que apareceram há muitos milhões de anos nas bactérias azuis, as cianobactérias, que existiam nas pocinhas à superfície da terra. Estas bactérias perceberam que quando se multiplicavam durante o dia, a divisão corria mal e começaram a reproduzir-se de noite. Os ritmos circadianos, que hoje existem nas plantas, nos animais, nas bactérias estão na origem da vida, existem desde o princípio da vida.”
Teresa Paiva falou ainda da evolução da ciência nesta matéria: “até há pouco tempo descrevia-se apenas o relógio circadiano que existe no hipotálamo. Hoje sabe-se que estamos cheios de relógios internos, periféricos, no sangue, nos pulmões, no baço, relógios internos para nos sincronizar.”
A especialista considera essencial esta sincronização: “Nós somos animais altamente sincronizados. A regularidade, na alimentação, nas horas de deitar e levantar, é essencial ao nosso equilíbrio.
A extrema variabilidade de hábitos faz com se desregulem os relógios internos, biológicos e o organismo tem de fazer um grande esforço para se adaptar. Estas alterações também afectam o funcionamento hormonal. No principio da noite produzimos hormonas anabolizantes, a hormona do crescimento, a prolactina, a testosterona, também hormonas que nos dão o equilíbrio auto-imune. No fim da noite, produzimos hormonas catabolizantes, o cortisol que nos dá energia.
Quanto há grandes variações, quando não temos horários, as células devem ficar descontroladas, deve haver hesitações entre as nossas hormonas , vou eu ou vais tu, quem é que vai hoje…”
As consequências para a saúde podem ser muitos graves, segundo Teresa Paiva: “O crescimento, essencial para a reparação dos tecidos, é afectado. A produção de leptina e grelina também fica desregulada, o que contribui para o aumento do apetiteg. A testosterona diminui nos homens. Doenças ainda mais graves como o cancro, o Alzheimer, alterações cognitivas diversas também podem ocorrer”.